Pharmaceutical Technology Brasil Ed. 2-22

Pharmaceutical Technology 33 Edição Brasileira - Vol. 26/Nº2 tes de cor amarela, vermelha ou laranja, que se abrem quando maduros colocando à mostra as sementes escuras e brilhantes envoltas em polpa branca. As sementes de cor marrom-escura apresentam formas arredondadas, são constituídas de um tegumento duro (casquilho) que envolvem dois cotilédones. A composição química da semente de guaraná é caracterizada pela presença de cafeína, teofilina e teobromina, alcaloides pertencentes ao grupo metil xantina, além de terpenos e flavonoides, taninos, vitaminas e mucilagem, dentre outros compostos orgânicos. Também contémmi- nerais dentre os quais se incluem o fósforo, cálcio e titânio. De um modo geral, o teor de cafeína da semente do guaraná (de 3 a 6%) é superior à do café (2%), do cacau (0,25%) e das folhas de erva mate (0,8%). O guaraná se insere no bloco das plan- tas que constitui o “mundo das cafeínas”, sendo aquele que contém o mais elevado teor desta substância, quando comparado com o café, cola, cacau, chá dentre outros. Todos estes produtos naturais estão envol- tos em lendas, mitos, contos, polêmicas e controvérsias, com indicadores de consu- mo cada vez maiores. Os produtos que fazem parte do “mundo das cafeínas” foram e são consi- derados promotores no desenvolvimento de regiões e países, estruturando grupos sociais e promovendo impacto em muitos aspectos dessas culturas, como economia, agricultura, dieta, literatura, arquitetura, política e leis. Alguns, como o café e o chá, tornaram-se organizadores sociais à medida em que as pessoas se reuniam e se reúnem para consumi-los pública e pri- vadamente em combinações que diferem dos antigos arranjos sociais. Propriedades nutricionais e terapêuticas das sementes de guaraná O guaraná é, certamente, um dos mais tradicionais insumos farmacêuticos do Brasil sendo utilizado na preparação de bebidas com propriedades alimentares, nutricionais e farmacológicas. A legislação brasileira contempla a possibilidade de elaboração de suplementos alimentares contendo guaraná em diferentes formas de administração. Existem atualmente no mercado mun- dial produtos fitoterápicos, nutracêuticos e alimentos funcionais que são desenvol- vidos para tratamento, suporte nutricional e para apoiar a termogênese e gasto de energia. O guaraná é, muito provavelmente, um dos mais antigos medicamentos utilizados no Brasil. Foi inscrito na primeira farmaco- peia elaborada no Brasil, a Pharmacopeia Paulista editada em 1917. Desde então a monografia do guaraná está presente em todas as edições da Farmacopeia Brasileira, desde a primeira em 1926 (Pharmacopeia dos Estados Unidos do Brasil). Atual- mente está detalhadamente inscrito no Formulário de Fitoterápicos de 2011 e no Memento Fitoterápico de 2016 da Far- macopeia Brasileira. Nestes dois últimos compêndios constam dados e informações sobre a preparação dos medicamentos e uso terapêutico, amparados por ampla bibliografia. O potencial do guaraná no contexto das Ciências Farmacêuticas Nas últimas décadas encontra-se um significante número de patentes depo- sitadas em países europeus, asiáticos e norte-americanos com formulações con- tendo compostos de sementes de guaraná, configurando a relevância para a nutrição e saúde humana. O guaraná vem sendo também utilizado na produção de cosmé- ticos com indicação para o tratamento de peles oleosas e celulite. As xantinas metiladas, ou seja, cafeína, teobromina e teofilina do guaraná são estimulantes dos sistemas nervoso central e cardiovascular, sendo a cafeína a mais potente. A cafeína atua ligando-se aos receptores da adenosina, aumentando o estado de alerta do indivíduo, promovendo uma melhoria na associação de ideias e atividades intelectuais, maior resistência ao cansaço e uma sensação de bem-estar. No entanto, as metil-xantinas não são os únicos compostos responsáveis pelas ati- vidades terapêuticas do guaraná. Grande parte das propriedades terapêuticas do guaraná, como a capacidade antioxidante, são atribuídas a altas concentrações de compostos fenólicos (taninos entre outros) e uma capacidade anti-inflamatória asso- ciada à presença de saponinas. No campo das inovações científicas encontra-se um número elevado de pesquisas que caracterizam alguns com- ponentes das sementes de guaraná como agentes antioxidantes. Os compostos fenólicos das plantas e seus precursores da biossíntese são alvo de interesse de investigadores há décadas, inicialmente devido à importância como reguladores de seu crescimento, mas sobretudo pela influência na pigmentação e no sabor. Atualmente, as pesquisas com esses fito- -químicos ou alimentos funcionais estão focadas nos potenciais efeitos benéficos à saúde humana. Os radicais livres são constantemente gerados em organismos humanos e de animais como resultado de reações meta- bólicas, assim como nas plantas. Quando a produção de radicais livres excede a capa- cidade antioxidante fisiológica fornecida por enzimas e compostos antioxidantes naturais, as proteínas, lipídios e DNA po- dem ser atacados, produzindo distúrbios enzimáticos, danificando as membranas celulares e o material genético do orga- nismo. Pesquisas revelam que os “radicais livres” podem interagir com partes de células e causar danos relacionados com o envelhecimento, doenças cardíacas, alguns tipos de câncer, bem como outras enfermidades. Mesmo que estejamos ainda distantes do preconizado pelas lendas relativas à origem do guaranazeiro, pode-se inferir que os conhecimentos consolidados e os potenciais do uso das sementes de guaraná se aproximam da “planta cujos frutos daria felicidade a todos” n Este texto utilizou citações contidas em textos de pesquisas, de livros e compêndios da Farmacopeia Brasileira.

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